terça-feira, 20 de maio de 2008

Prótese II


Durante os primeiros dias, apenas colocava a prótese durante cerca de uma hora, para ir adaptando o coto àquela forte pressão e esforço constante. Aproveitava as sessões de fisioterapia para calçar a prótese e efectuar os exercícios de equilíbrio e adaptação aconselhados pelo fisioterapeuta que me acompanhava. Era sobretudo essencial que nestes primeiros dias fosse ganhando alguma consistência, apoiando o peso do meu corpo sobre a nova perna, para que desenvolvesse os músculos e a força necessária para conseguir caminhar normalmente.
A adaptação começava a ser uma realidade sorridente, os exercícios de marcha com o apoio das barras laterais começavam a surtir efeito. Além das sessões de fisioterapia, também comecei a colocar a prótese em casa e a caminhar durante algum tempo com o apoio das canadianas. Ao fim de poucos dias, já me sentia mais à vontade com a prótese e apenas utilizava uma canadiana para me apoiar durante os meus passos.
Tanto o fisioterapeuta como o técnico aconselhavam-me a ir calmamente, a ser paciente, para que durante este processo de adaptação não adquirisse certos hábitos que prejudicassem a naturalidade da minha marcha num futuro próximo.
Passado cerca de um mês já conseguia caminhar mais naturalmente, sem a ajuda das canadianas. Tentava aperfeiçoar diariamente a minha marcha e sentia uma grande alegria e entusiasmo por estar a conseguir vencer mais uma batalha que ao início parecia bastante complicada.

Com o decorrer do tempo, fui adaptando-me cada vez melhor à minha nova realidade, habituando-me com naturalidade a todos os mecanismos envolventes ao uso da prótese. Calçar a prótese começava a ser tão natural como calçar um par de sapatos. Conseguia andar quase todo o dia com a prótese, aguentando o esforço e um ritmo diário algo intenso sem sentir dores ou acusar cansaço.
Era uma sensação plena de liberdade poder caminhar novamente sobre as minhas pernas, poder passear com liberdade. Apenas sentia um pouco de dificuldade quando andava sobre pisos irregulares ou passeios com subidas ou descidas acentuadas, o que era normal segundo o que o técnico me havia dito.
É claro que existem algumas limitações físicas, algumas barreiras que o uso da prótese não consegue vencer, mas é uma realidade que não impede em nada de viver intensamente o meu dia a dia, ou que me faça sentir inferior e infeliz. Além de conseguir adaptar-me à nova realidade física da prótese e todos os cuidados necessários ao seu uso, o mais importante é vencer as barreiras mais difíceis, os preconceitos e barreiras interiores. Ter consciência das nossas limitações e acreditar que esse facto não é impedimento para seguir em frente e lutar pela felicidade como outro ser humano qualquer é o factor mais importante para que consiga ultrapassar todos os obstáculos que vão surgindo diariamente.

1 comentário:

Anónimo disse...

A tua força é o incentivo para todos os qu passam neste momento por esta situaçao!!!

admiro-te!!