quarta-feira, 7 de maio de 2008

Calvário I


Numa manhã de uma sexta-feira, saía de casa em direcção ao IPO no Porto, um lugar onde jamais havia estado. A viagem demorou cerca de uma hora, com um trânsito caótico à chegada. Aquela manhã fora bastante preenchida, quase numa correria, percorrendo alguns sectores daquele hospital.
A última e mais importante paragem daquela manhã, foi na sala reservada às consultas de grupo. Enquanto aguardava pela minha vez, via sair de lá de dentro pessoas a chorar, em verdadeiros prantos. Chamaram pelo meu nome, entrava naquela sala e ficava perante uma equipa de médicos que me explicaram detalhadamente qual a doença que padecia e quais os tratamentos a que teria de me submeter. Tudo num discurso bastante frontal, utilizando uma linguagem bem acessível e perceptível ao mais comum dos mortais.
Explicaram-me que tinha um tumor maligno no joelho direito, provocado por uma incorrecta regeneração celular e que teria de efectuar alguns ciclos de quimioterapia para tentar queimar essas células cancerígenas. Também me elucidaram para a hipótese bem real de poder perder o membro inferior direito, caso os tratamentos de quimioterapia não tivessem sucesso.

Estava de regresso a casa, depois de uma manhã intensa, em que finalmente parecia existir uma luz ao fundo do túnel. O primeiro tratamento começava já a seguir ao fim-de-semana. Parecia estar tudo a decorrer tudo muito rapidamente, depois de uma longa travessia por um deserto árido.
Num curto espaço de tempo consegui ficar esclarecido acerca da minha situação, aquilo a que me teria de submeter e o que me poderia suceder. É incrível a diferença de atitude e tratamento em relação ao lugar onde estivera internado cerca de um mês.


A quimioterapia foi o processo mais cruel que tive de enfrentar. O meu corpo conseguiu apenas resistir a dois ciclos do tratamento que estava planeado. Um tratamento bastante agressivo cujo objectivo era eliminar as células cancerosas do meu organismo, mas acarreta os chamados efeitos colaterais que limitam e degradam as funções do nosso organismo. É necessário reunir forças no nosso interior, para conseguir percorrer um longo deserto, atravessar um longo calvário.
Cada ciclo de quimioterapia correspondia a uma semana de internamento terrível, apesar de toda a bondade e generosidade das pessoas que estavam presentes e me ajudavam diariamente.

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