segunda-feira, 19 de maio de 2008

Prótese I


Após cerca de sete meses da cirurgia, do dia em que ficara sem a perna direita, é que estava finalmente pronto para avançar para a prótese. Na consulta de medicina física, a médica, depois de me examinar e verificar a evolução do meu coto, disse-me que chegara o momento de prescrever a prótese. Era um momento muito importante para mim, pois aproximava-se o próximo passo da minha completa recuperação.
Passado cerca de um mês, recebia uma chamada de uma casa ortopédica com a finalidade de marcar o dia e a hora para fazer os moldes e tirar medidas. Crescia em mim uma certa ansiedade por estar prestes a descobrir algo que desconhecia e iria ser fundamental para os dias da minha vida.
Na semana seguinte, seguia em direcção ao Porto, a caminho do local onde ficava a casa ortopédica onde estava marcado para o início da manhã a sessão de testes para efectuar os moldes necessários à construção da prótese. Foi um pouco complicado conseguir descobrir o local, mas após alguma confusão no trânsito e umas paragens para perguntar indicações a transeuntes.
Finalmente chegava ao local pretendido, dirigindo-me à recepção para efectuar os requisitos necessários para a abertura do meu processo. Depois das burocracias realizadas, fui recebido por um técnico ainda relativamente jovem e muito bem disposto. Cumprimentou-me e apresentou-se colocando-me desde logo bastante à vontade, criando desde logo uma empatia agradável entre nós.
A manhã foi muito preenchida a tirar um número infindável de medidas e a efectuar moldes. Era tudo um pouco estranho para mim, observava todos aqueles processos e técnicas com bastante curiosidade e tentava ser o mais prestável possível ao que me pediam para fazer. Explicaram-me que a construção da prótese era um processo que requeria muita dedicação e técnica e que alguns materiais eram importados, pelo que iria demorar cerca de três semanas para que me chamassem com o objectivo de ver o resultado e experimentar.
No final daquela manhã intensa, estava de regresso a casa, sentindo um misto de entusiasmo e ansiedade pelo facto de estar cada vez mais próximo e real a concretização de um grande passo para a minha qualidade de vida no futuro.

O prazo de construção foi cumprido rigorosamente e, após o intervalo das três semanas, contactaram-me para me informar que a prótese estava pronta para eu a testar e experimentar pela primeira vez. Combinamos a data para a realização desse grande momento.
Aquele dia, em que finalmente iria ver a minha nova perna direita e que poderia experimentar e sentir o que era novamente caminhar, havia chegado. Desta vez entrava directamente para o ginásio da casa ortopédica, acompanhado pelo técnico que estava ao meu dispor, para me ensinar o essencial.
Entrava no ginásio e deparava-me com a prótese encostada a um canto ao fundo do ginásio, à espera que a experimentasse, fizesse uso dela. O técnico explicou-me detalhadamente como deveria calçar a prótese. Parecia-me algo complicado todo aquele processo e, quando experimentei, foi relativamente difícil.
Pela primeira vez, ao cabo de oito meses, estava novamente apoiado em dois membros inferiores, mas a sensação não era nada agradável. Sentia uma pressão enorme no coto, como se estivesse a ser sufocado pelo copo da prótese. Era como se um pássaro completamente livre, fosse enclausurado num cubículo onde não pudesse bater as asas…
Passados alguns instantes daquela sensação inicial, com a ajuda das barras laterais do ginásio consegui dar os primeiros passos, parecendo um robot. O técnico estava bastante atento e dava-me indicações no sentido de eu olhar para o espelho em frente e observar a minha marcha. Também me questionava acerca da afinação do joelho e da orientação do pé, procedendo aos retoques técnicos necessários.
Algum tempo depois, descalçava a prótese, sentindo um profundo alívio no meu coto e com uma voz bastante desagradável no meu interior que me questionava se alguma dia seria capaz de andar normalmente com aquilo.
O técnico explicou-me também que a construção da prótese não estava ainda completamente terminada. Faltava o revestimento da prótese, que apenas seria feito depois de um tempo experimental, para dar tempo a que me adaptasse melhor e a proceder a algumas afinações necessárias. Trazia a prótese comigo para ir utilizando diariamente, de forma gradual, principalmente durante as sessões de fisioterapia.

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